Apesar da pressão de entidades, estudantes e cientistas pelo adiamento, Inep manteve data do exame para o próximo domingo (17) em meio à alta exponencial dos casos e mortes por Covid-19 no país; locomoção e aglomerações nos locais de prova preocupam
O Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) se somou à pressão de outras entidades e enviou, nesta quarta-feira (13), uma carta ao Ministério da Educação em que solicita ao titular da pasta, Milton Ribeiro, que adie a data do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), marcado para os dois próximos domingos (17 e 24).
A prova que dá acesso ao ensino superior conta com quase 6 milhões de inscritos, que se deslocarão de suas casas, em todo o Brasil, e passarão pelo menos 2 horas em uma sala fechada com, no mínimo, outras 30 pessoas.
“Não é adequado realizar um exame nacional destas proporções num contexto de alta transmissão da doença [Covid-19] e em realidades tão assimétricas no país. Todos os estados possuem regiões de alta transmissão”, diz a carta dos secretários estaduais de Saúde.
A preocupação não é à toa. Sem sequer um plano de vacinação, o Brasil vive uma ascensão exponencial no número de casos e mortes em decorrência da Covid-19. Com mais de 200 mil mortos, o país bateu, nesta terça-feira (13), o maior número de média móvel de novos casos de infecção desde o início da pandemia: 54.784 diagnósticos positivos para a doença em um só dia.
Diante deste cenário, antes do Conass, entidades como a Defensoria Pública da União, junto com a União Nacional dos Estudantes (UNE), a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), a Campanha Nacional pelo Direito à Educação e a Educafro entraram com uma ação na Justiça exigindo o adiamento das provas. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do MEC responsável pela realização do Enem, no entanto, mantém as datas da prova e ainda tem o respaldo da Justiça, que negou nesta terça-feira (12) o pedido pelo adiamento feito pelas entidades.
À Fórum, em entrevista publicada na segunda-feira (11), Andressa Pellanda, coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, afirmou que os estudantes, para além da pressão do vestibular, neste momento “têm que escolher entre fazer o Enem ou a saúde de suas famílias”.
Exame e Quarentena
Mais do que o momento da prova na sala de aula em si, a transmissão do vírus para as famílias é o que mais preocupa Fábio Junqueira, infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
“Vamos imaginar o cenário ideal, todo mundo de máscara, distanciamento e ventilação. Isso é uma coisa. Minha preocupação é outra coisa: o transporte até a escola, a aglomeração na abertura do portão, no trajeto até a sala. Foi pensado nisso? Como vai acontecer? E o jovem faz o quadro [de Covid-19] mais leve mesmo, é raro precisar de internação, mas acaba transmitindo para dentro de casa”, disse Junqueira à Fórum, considerando que a maior parte dos candidatos vai até o local de aplicação do exame de transporte público, onde há aglomerações.
Aos inscritos que farão a prova, o professor recomenda uma quarentena de duas semanas após o exame. “É importante esse candidato se ambientar. Se expôs num cenário com maior risco. Tem que fazer uma quarentena de pelo menos uns 14 dias de pais, tios, avós ou alguém que more na mesma casa e tenha comorbidade”, pontua.
O médico dá como dica, ainda, o uso da máscara modelo N95 que, para ambientes fechados como as salas de aplicação do Enem, segundo ele, protegem mais que as máscaras comuns, além de protetor ocular, como óculos ou face shield.
O maior risco de pegar ou transmitir o vírus, segundo Junqueira, entretanto, está mesmo no trajeto. “Não aglomerar no ponto de ônibus, tentar ficar em um ônibus com janelas abertas, tentar ir a pé quando possível. Se for de Uber ou carro da família, vá de janelas abertas, sempre com máscara e usando álcool em gel. Não tirar a máscara de forma alguma dentro da sala”, recomenda.
O Inep informa que o uso de máscara é obrigatório tanto para entrar no local do exame quanto durante a realização da prova, sob pena de desclassificação. As salas, segundo o MEC, terão 50% menos candidatos que nos outros anos e as carteiras estarão dispostas respeitando o distanciamento social.
FONTE: REVISTA FÓRUM
FOTO: Alexandra Koch/Pixabay