Para o médico, o debate sobre tratamento precoce foi uma estratégia do governo e que a vacinação no Brasil está em um ritmo “ridículo”
Há um ano, o médico Drauzio Varella temia que o Brasil caísse em uma “tragédia nacional” e, como ele mesmo diz, “infelizmente o prognóstico se cumpriu”. Drauzio explica que, por conta da característica do vírus, que se espalha e contagia a partir de gotículas, seria muito difícil controlar, ainda mais nas periferias do Brasil onde vivem pessoas que “não tem condição de ficarem isoladas. Elas não têm condições porque dependem do trabalho diário para poder comer e levar alimento à família”.
Todavia, Drauzio afirma que “não tinha previsto que haveria uma desorganização do Ministério da Saúde, a ponto de o ministério perder completamente a relevância no país. E ter um presidente da República que dá exemplo pessoal do que fazer para disseminar a epidemia”.
Para o médico, o “kit Covid” foi pensado como uma estratégia política para enganar a população. “Essa discussão foi armada justamente para isso. Ela foi armada para desviar a atenção, não aconteceu por acaso. Nó temos um presidente que adotou medidas para as pessoas saírem na rua e pegar o vírus. E ele deu exemplo de medidas assim […] quando o presidente teve Covid-19, ele deu exemplo disso. Ele pegou um copo d’água e disse: ‘já tomei um comprimido de cloroquina, estou me sentindo bem. Vou tomar o segundo agora’. O que ele estava querendo? Enganar as pessoas’”, criticou.
Varella também criticou o Conselho Federal de Medicina (CFM) e afirmou se tratar de uma entidade que não representa “os médicos brasileiros”. “Essa coisa de dizer que o médico tem autonomia para fazer o que ele acha melhor, não é bem assim. Como autonomia? Eu tenho autonomia de receitar um medicamento ou um procedimento inútil para tratar a doença de um paciente?”, questionou Drauzio em entrevista à BBC.
Sobre o ritmo de vacinação no Brasil, Varela afirmou que o “ritmo” é “ridículo em relação ao que poderia ter sido. Nós temos um dos melhores programas de imunização do mundo. Não sou eu que estou dizendo isso, é a Organização Mundial da Saúde e muitas outras instituições. O brasil tem 38 mil salas de vacinação. No Brasil ninguém precisa viajar para ser vacinado”, disse.
O médico também é cuidadoso ao falar sobre o lockdown, afirma que esta medida não poder ser entendida como uma mágica e que, em um país com profunda desigualdade social, tem que ser feito de maneira inteligente e citou o caso de Araraquara, governada pelo prefeito Edinho Silva (PT).
“Então como você faz lockdown? Nós temos um exemplo importante, que foi Araraquara, cidade do interior de São Paulo. O prefeito chamou os industriais da cidade, os comerciantes, os sindicatos, conversou com todos, explicou o que estava acontecendo, e o que temos que fazer. Ele disse que as pessoas estavam morrendo e iam morrer muito mais se nada fosse feito. E aí eles fizeram um lockdown rápido”, disse Varella à BBC Brasil.
Por fim, Drauzio Varela fez questão de enfatizar que o Brasil não está em guerra e muitas das mortes por Covid-19 são evitáveis. “Se cria esse clima de que estamos numa guerra… Não estamos numa guerra. As pessoas que pegam o vírus só morrem porque pegaram o vírus. Se elas não tivessem pegado o vírus, estariam vivas. Portanto, são mortes evitáveis. Quem cometeu erros graves na pandemia precisa ser punido. Que tipo de punição? Não tenho ideia, não sou jurista”.
Com informações da BBC Brasil
FONTE: REVISTA FÓRUM
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