A aliança do capital com as forças policiais e militares de repressão dizimou a organização sindical e suas principais lideranças desde 1964. Torturou e matou centenas de trabalhadores. Como recompensa, os patrões ampliaram seus lucros, concentraram renda e seguraram por uma década a luta dos trabalhadores.
O 31 de março é a data que os militares que deram um golpe em um presidente eleito e democrático para instauram uma ditadura civil-militar, que durou mais de duas décadas, com censura, exílios, prisões, torturas e assassinatos contra seus opositores políticos.
Em nossa memória sobre este período costumamos lembrar dos intelectuais, jornalistas, e especialmente dos estudantes que agitaram o país em 1968 e sofreram severa e sanguinária repressão. No entanto, os trabalhadores e especialmente a classe trabalhadora organizada em sindicatos, no campo e na cidade foram o alvo central do golpe de Estado de 1964.
Antes mesmo do golpe de 1° de abril de 1964 os sindicatos eram invadidos, documentos apreendidos o que serviu para montar processos ilegais contra sindicalistas. O número de vítima entre os trabalhadores maior que de todas as demais classes sociais e as graves violações sofridas, assim como o ataque aos direitos sociais evidenciam que a ditadura a serviço do capital nacional e estrangeiro destruiu a democracia para atacar a classe trabalhadora.
Reformas de base e o projeto político da classe trabalhadora
O projeto político da classe trabalhadora organizada no campo e na cidade estavam sistematizados na proposta de reforma de base do presidente João Goulart: reforma agrária, urbana, eleitoral, administrativa e tributária. Reformas que ainda hoje são pautas da classe trabalhadora.
Na década de 1960 a classe trabalhadora organizada lutava pela regulamentação da remessa de lucros ao exterior, pela nacionalização de empresas estrangeiras estratégicas para o desenvolvimento nacional e por direitos trabalhistas, sociais. Hoje a classe trabalhadora num governo militar neoliberal luta para que nossas estatais estratégicas não sejam inteiramente privatizadas como a Eletrobras, a Petrobras, que nossos bancos públicos, que financiam a agricultura e moradias e a produção nacional, não sejam destruídos.
São lutas históricas da classe trabalhadora que tem um projeto de nação para o Brasil. E foi contra essas lutas que militares e capital e mídia financista se uniram para destruir a democracia. Essas mesmas forças se uniram no golpe de 2016 e permanecem unidas hoje, embora a mídia financista pareça ignorar que somos governados pelo partido militar e queira vender a reação do comando das três armas no dia de ontem como uma ação para “salvar a democracia”
Ditadura e a aliança empresarial, policial e militar para oprimir a classe trabalhadora
A violência do capital no mundo do trabalho se uniu à violência do Estado com suas forças policiais e militares como agentes da repressão. Em todos os espaços de produção haviam agentes da repressão infiltrados. De acordo com os relatórios da Comissão da Verdade, foram criadas as Assessorias de Segurança e Informação (ASI) no interior das empresas estatais e dos setores de RH das empresas privadas que forneciam as “listas negras” para o Departamento de Ordem Política e Social – DOPS e Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), os órgãos principais do regime que prendiam, torturavam e matavam os opositores políticos. Antes do DOI-CODI era a Operação Bandeirante (Oban) que exercia esse papel. A Oban era um centro de informações e investigações composto por membros da Aeronáutica, Marinha, do Departamento de Polícia Federal, do Serviço Nacional de Informações e também por órgãos do governo do Estado de São Paulo (Secretaria de Segurança Pública, Departamento de Ordem Política e Social, Força Pública do Estado de São Paulo e Guarda Civil. A Oban tinha como finalidade identificar, localizar, capturar e eliminar os opositores do regime. O mais eficiente agente torturador da Oban foi o coronel do exército, Carlos Alberto Brilhante Ustra, que, a partir de 1970 até 1974 chefiou o DOI-CODI, entidade sucessora da Oban. Ustra foi o torturador da presidenta Dilma Rousseff, homenageado por Bolsonaro em seu voto para o impeachment. Foi responsável por mais de 40 assassinatos nas dependências do DOI-CODI.
O capital (empresariado, agronegócio e banqueiros) financiava, com apoio material, logístico e ideológico todo o aparato do sistema de repressão. O magnata da Ultragaz, Henning Albert Boilesen, não contente em financiar a tortura, importou um aparelho de choques e também assistia às sessões de tortura.
Em fábricas como da Volkswagen, em navios petroleiros, no Metrô e em tantos outras empresas houve tortura dentro do chão de fábrica. A Folha entregou sua jornalista Rose Nogueira para a repressão e depois a demitiu por justa causa por abandono de emprego. As famílias dos operários como a dos metalúrgicos da Volkswagen sabiam que quando o trabalhador não voltava pra casa tinha sido entregue às torturas, mesmo que funcionários do RH da Volks afirmassem que eles saíram em viagem (sem mala, sem documentos).
Essa aliança do capital com as forças policiais e militares de repressão dizimou a organização sindical e suas principais lideranças desde 1964, torturou e matou centenas de trabalhadores, perseguiu mais de 10 mil sindicalistas. Como recompensa os patrões ampliaram seus lucros, concentraram renda, arrocharam os ganhos dos trabalhadores e seguraram por uma década a luta dos trabalhadores.
Ontem o ministro da defesa de Bolsonaro, celebrou a ditadura militar, hoje, o vice-presidente de Bolsonaro fez o mesmo:
Não há o que celebrar. Como destaca Hildegard Angel, que perdeu seu irmão e sua mãe para a ditadura militar:
Os algozes da classe trabalhadora não conseguiram impedir a reorganização dos sindicatos. Dessa reorganização da classe trabalhadora nasceu Lula. As greves organizadas por ele, em fins da década de 1970 e início da década de 1980, e a reorganização dos movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores sem Terra, das Mulheres, dos negros derrubaram a ditadura militar.
O Brasil vive hoje um governo militar, uma pandemia que está chegando a matar 4 mil pessoas por dia. Não serão os militares que salvarão a democracia de Bolsonaro, como celebra a mídia. Bolsonaro foi gestado pelos militares, pelo capital, pela mídia financista, por um Congresso liderado por Cunha, por um judiciário e MP que empreenderam lawfare contra a maior liderança política latino americana e por um STF inoperante.
Quem recuperará a democracia no Brasil mais uma vez será a classe trabalhadora.
FONTE: REVISTA FÓRUM
FOTO: REPRODUÇÃO