Segundo líderes, ordem de juíza federal de São Paulo põe em risco a sociedade, exclui estudantes pobres e ignora diálogo
Entidades estudantis reagiram com indignação à decisão da Justiça Federal de São Paulo de manter o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) marcado para os dias 17 e 24 de janeiro.
A ordem, proferida nesta terça-feira (12), contraria pedidos das próprias entidades e da Defensoria Pública da União, que entrou com uma ação na semana passada para que as provas fossem remarcadas.
O principal argumento da juíza Marisa Cláudia Gonçalves Cucio, que assina a decisão, é de que a postergação das provas traria consequências financeiras à União e provocaria prejuízos à formação acadêmica dos alunos.
A presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Rozana Barroso, concorda que os alunos estão prejudicados, mas explica que os problemas vão muito além da data do exame e não serão resolvidos com o apressamento das provas.
“Nós concordamos que tudo isso tem causado problema na vida dos estudantes, mas esse problema é fruto da falta de diálogo e da irresponsabilidade. Por isso, defendemos o adiamento para que o Enem possa ser realizado com segurança”, diz.
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Para ela, a manutenção do Enem para o fim do mês é uma tentativa de impedir que os estudantes façam as provas. “Nós enxergamos isso como mais uma medida para impedir os estudantes brasileiros de realizarem o Enem. Estamos falando de mais de oito meses sem acesso à educação e também de uma segunda onda da pandemia, com escolas desestruturadas e com protocolo de segurança nada claro”, explica.
“Na nossa opinião, quem quer que os estudantes brasileiros, em maioria negros e periféricos, não realizem o Exame Nacional do Ensino Médio é o próprio Ministério da Educação, que não nos dá condições para isso”, queixa-se.
Élida Elena, vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), reforça que os procedimentos de segurança para a aplicação do exame não foram expostos pelo Ministério da Educação. Para ela, a falta de transparência coloca em risco toda a sociedade.
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“Os estudantes estão assustados com o resguardar de sua saúde, porque é uma questão de transmitir o vírus, de contaminar e transmitir para o conjunto da sociedade, os familiares”, afirma.
De acordo com Élida, a realização do Enem nas condições atuais aprofunda ainda mais a desigualdade educacional brasileira. “Falando da realidade das condições de preparação para a prova, isso deixa marcas mais profundas para os estudantes pobres, porque exige acesso à internet, a tecnologia, que muitos jovens não têm”.
A vice-presidente da UNE diz que a data das provas teria que ser definida, além da situação da pandemia, a partir de conversas com os estudantes, o que, segundo ela, não existiu. “O que tem que balizar a data da prova é um diálogo entre as entidades estudantis, que estão ali vencendo o cotidiano, diálogo com profissionais da saúde, para dar um diagnóstico sobre o período e condições adequados”.
FONTE: BRASIL DE FATO
FOTO: Akira Onuma/Ascom