Roupas novas para ideias caquéticas

04/02/16 | Lutas no Brasil

Tendo tempo, costumo me exercitar caminhando pelas ruas de Santana, bairro da capital paulista onde vivo. No último sábado, dia 30, vestindo camiseta da CUT em defesa da redução da jornada de trabalho, andava pela avenida Brás Leme pensando na vida. De repente, fui abordado por um grupo de jovens vestidos de camiseta laranja, muito bem alimentados, parecendo filhos de classe média alta, diferentes daqueles que normalmente distribuem panfletos pelas ruas da capital.

Logo um deles abriu conversa comigo me entregando um cartão de apresentação em que estava escrito contra o Fundo Partidário e que os partidos devem ser sustentados apenas por seus apoiadores. Imediatamente, afirmei a ele que talvez estivesse abordando a pessoa errada, pois sou favorável ao Fundo Partidário. Ele contra-argumentou afirmando que o Estado não deveria retirar recursos de outras áreas para sustentar partido.

Pode parecer, para uma pessoa leiga, uma boa proposta, especialmente numa conjuntura como esta em que os meios de comunicação, diuturnamente, fazem comentários pejorativos sobre os partidos. No entanto, disse a ele que era favorável a este Fundo pois é uma forma do Estado investir recursos na pluralidade de pensamentos, garantindo a sobrevivência, dando um patamar mínimo de condições a que todas as posições políticas e ideológicas sejam respeitadas.

O contrário disto seria os partidos que defendem interesses da elite econômica terem abundantes recursos e os partidos que defendem os trabalhadores ficarem à míngua. Disse inclusive que os filiados ao partido devem contribuir, mas que esta não deve ser a única forma de sustentação.

Sentindo que o jovem me pareceu desinformado e contaminado por ideias conservadoras, passei a emitir opiniões sobre financiamento de campanhas eleitorais e sobre projetos que se encontram no Congresso Nacional que retiram direitos da classe trabalhadora.

Acabei descobrindo que realmente as ideias do grupo e a proposta do chamado “Partido Novo”, defendidas por eles, não passavam de velharias bem ao gosto do que há de mais reacionário da sociedade brasileira. Informei que parte expressiva daqueles deputados que defendiam a retirada de direitos da CLT havia sido financiada por empresários. Fiel à sua “nova proposta” ele defendeu a “flexibilização” da CLT em função dos interesses do capital, mudança apontada como “moderna”.

Quanto à sustentação de partidos e campanhas eleitorais, defendi ser melhor que o financiamento seja público porque a sociedade fica sabendo quanto cada partido recebeu e de quem. Afirmei que a proposta deles favorecia o Caixa 2 e a corrupção, um problema que estamos vivenciando hoje. Disse que, com a proposta deles, a população iria pagar mais caro. Na minha opinião, nenhum empresário concede recursos a uma candidatura retirando do seu próprio bolso. Com certeza vai exigir contrapartida ou repassar para as suas mercadorias o valor concedido.

Expliquei que o que eles estavam propondo eram monstrengos a serviço do capital, contra a visão democrática de que o Estado necessita servir a todos. Lembrei que nos Estados Unidos, que aplicam o receituário tal e qual propunham, as empresas é que pagam a conta e, por isso mesmo, ditam o que fazer com o poder.

Sequer sabiam que as mesmas construtoras que concederam R$ 56 milhões para a última campanha de Dilma também brindaram R$ 52 milhões à campanha de Aécio. Perguntei a ele por que o dinheiro para a campanha de Dilma é sujo e o de Aécio é limpo? Não obtive resposta.

Com muita calma, ouvi atentamente opiniões bem formatadas pela Revista Veja e articulistas de extrema direita. Definitivamente as “novas ideias” saíram do armário, o que é bom para a democracia. E com este espírito me despedi dos jovens.

Precisamos ter paciência para conversar com quem quer que seja, especialmente com a nossa base social, sobre o tal do “novo” que está surgindo. Infelizmente, são inúmeros os registros na história onde a elite vem com roupas novas para ideias caquéticas.

Fonte: CUT BRASIL

Foto:  Roberto Parizotti

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