Aulas presenciais sem vacinação submeteria população de Fortaleza a massacre, avalia Sindiute

21/04/21 | Lutas no Brasil

Retomar as aulas presenciais sem vacina e sem mudança estrutural no modelo de funcionamento das escolas, como exige o PL 5595/2020, aprovado na noite de ontem (20/04) na Câmara dos Deputados, seria submeter a população de Fortaleza a um massacre. A avaliação é do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação do Ceará (Sindiute), após apontamentos de análise da pesquisadora Josimari Telino de Lacerda, membro do professora do departamento de Saúde Pública da UFSC e integrante do Observatório Covid-19 BR.

Em live realizada pelo Sindicato na última quinta-feira (15/04), Josimari disse que as salas de aula, enquanto espaços fechados, são os mais perigosos para a proliferação do vírus. Disseminado principalmente por gotículas respiratórias espalhadas pela ar e considerando as dificuldades próprias da educação básica, as unidades de ensino seriam verdadeiras “incubadoras” da doença.

A estudiosa esclarece que, mesmo com máscara, em contato prolongado, em ambiente fechado, com baixa ventilação, pouca circulação externa de ar e com pessoas falando o risco de transmissão da Covid-19 é considerado alto. Adiciona-se a isso a dificuldade de convencer crianças e adolescentes a adotarem o uso correto das medidas de proteção individual.

E pior: a proliferação do novo Coronavírus no Ceará está descontrolada. O estado é o segundo no Nordeste com mais casos e mais mortes. Fortaleza, por sua vez, alcançou aumento de 600% no número de testagens positivas e uma evolução de 47,16% nos óbitos. Na capital, são 250 falecidos por 100 mil habitantes no período de 2020 a 2021.

“Fazendo uma comparação com um avião Airbus, que comporta em média 160 passageiros, na última semana teriam caído cinco aviões no Ceará e 2,6 aviões em Fortaleza. No último ano, foram 98 aviões no Ceará e 42 aviões em Fortaleza”, destaca a professora da UFSC.

Mesmo com baixa testagem – média 247 por mil habitantes – a taxa de positividade para a Covid é de 32,1% em Fortaleza. Além disso, a taxa de ocupação das UTIs se mantém acima dos 90% na Capital há meses, mesmo com a ampliação no número de leitos.

Outro dado relevante é que o Ceará é o quarto estado com mais idosos e adultos com diabetes, doenças do coração e do pulmão residindo com crianças e adolescentes (de 3 a 17 anos) – o público da educação básica. Assim, circular o vírus entre estudantes é agravar a proliferação em diversos outros agrupamentos sociais mais vulneráveis.

De acordo com o Sindiute, com todos esses dados, fica evidente que, mesmo com a vacinação do professores, sem a necessária imunização dos demais membros da comunidade escolar, ou seja, estudantes e familiares, e efetivas medidas de segurança e saúde, a rede de educação seria um perigoso vetor para o vírus.

Portanto, conforme Josimari Telino de Lacerda, seria muito irresponsável determinar a retomada imediata das atividades presenciais nas escolas e nas universidades brasileiras, como exige o projeto de lei em tramitação acelerada.

Avaliação

Para Ana Cristina Guilherme, presidenta do Sindiute, a preocupação das lideranças políticas locais e nacionais neste momento deveria ser garantir vacinação para toda a população, assim como investir desde já na mudança na infraestrutura das escolas e planejar estratégias de implantação de um modelo de educação que considere a alternância de educadores e educandos nas unidades escolares.

Conforme análise de professores dos departamentos de Sociologia e Estatística da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um só aluno infectado numa sala com outros 20 tem potencial para contaminar outros 60 do círculo familiar em apenas 15 dias. Isso com todos eles usando máscara no colégio. Sem o equipamento de proteção, seriam 90 infectados em apenas dez dias. “É como converter salas de aulas em câmaras de gás, instrumento usado pelo nazismo alemão para provocar a morte em massa de povos indesejados ao regime racista. É isso que os deputados que aprovaram a medida querem?”, questiona Ana Cristina.

Para a dirigente sindical, “essencial é a vida, por isso somos contra o retorno às aulas presenciais nas condições atuais”. A educadora lembra que a ansiedade neste momento é por segurança sanitária. “Temos assistido um número gigantesco de mortos entre os servidores da educação de Fortaleza e não podemos permitir que isso se agrave ainda mais. Por isso é tão importante derrotar o projeto que exige o retorno em meio o pior momento da pandemia. No lugar de estimular aglomerações, o parlamento deveria debater com urgência a recomposição do orçamento da educação e da saúde, para garantir o direito à educação que nos está sendo negado e fortalecer o Sistema Único de Saúde para sobreviver a esse caos”, pondera.

Além disso, a líder dos professores da Capital chama atenção para a garantia de internet e equipamentos para os estudantes e profissionais da rede pública, que desde o início da pandemia clamam por condições de aprendizagem no ensino remoto, assim como segurança alimentar.

Saiba quem são os deputados federais do Ceará que votaram a favor do PL 5595/2020:

AJ Albuquerque – PP;
Danilo Forte – PSDB;
Cap. Wagner – PROS;
Dr. Jaziel – PL;
Genecias Noronha – Solidariedade;
Heitor Freire – PSL.

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