Mulheres da educação latino-americana e o desafio de resistir

03/12/19 | Lutas no Brasil

Até amanhã (03/12), a Rede de Mulheres Trabalhadoras em Educação da América Latina se encontra reunida em Curitiba (PR). Essa atividade é realizada pela Internacional da Educação para América Latina (IEAL) com apoio e participação das entidades brasileiras afiliadas. A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e o PROIFES (Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico) estão presentes com uma delegação muito representativa de 172 companheiras e companheiros de 28 sindicatos, que se somam a outros 157 participantes de 17 organizações de 12 países: Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Uruguai, Peru, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Honduras, Panamá e República Dominicana.

O início da atividade foi marcado por uma apresentação das Brejeiras, grupo de samba e choro. Esse momento de alegria marcou o reencontro de companheiras que tem estado na
luta pela equidade de gênero na Educação nos últimos 15 anos, desde que a Rede de Mulheres passou a atuar. A professora Fátima Silva, Secretária Geral da CNTE e Vice-Presidenta da IEAL, saudou a todas e todos lembrando que a força dessas mulheres tem feito a diferença em todos os países onde a Rede atua e, como brasileira, agradeceu o apoio que os países presentes deram ao Brasil enquanto resistimos aos golpes que tem atingido a nossa democracia.

“A América Latina tem essa dinâmica e o rosto de cada país aqui representado, somos transitórias, mas o legado do nosso empenho será um mundo melhor, mais igual e justo para as próximas gerações de mulheres e homens. Esse grupo se apoia, se fortalece e ultrapassa fronteiras de países e continentes, essa é a nossa Rede de Mulheres”, disse Fátima Silva. Também trouxeram suas saudações Sonia Alesso, da CTERA (Argentina), Luciene Fernandes, do PROIFES (Brasil), Rosilene Corrêa da CNTE (Brasil), Berenice Jacinto da CTB (Brasil), Sueli Veiga da CUT (Brasil), Rune Fimreite da UEN (Noruega) e Joakim Olsson da LARARFORBUNDET (Suécia).

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Na sequência, houve um painel de diálogo para iniciar a análise de conjuntura que será o tônus desse primeiro dia de atividade e a companheira Carmen Brenes, do ANDE (Costa Rica), compartilhou sua experiência como dirigente sindical em seu país. “Para nós é uma luta constante. Desempenhar múltiplos papéis exige muito de nós que, inseridas numa cultura patriarcal, somos fiscalizadas o tempo todo. O apoio dessa Rede e de outras mulheres é fundamental para resistir aos ataques machistas que recebemos”, disse. Ela também comentou sobre o avanço das igrejas neoliberais em seu país e como a influência desses grupos impacta a sociedade.

Da FUM-TEP (Uruguai), Elbia Pereira, trouxe sua preocupação com os retrocessos esperados a partir da recente chegada de um governo de direita ao poder. “Somos um país orgulhoso de termos uma agenda importante de diretos sociais, mas também estamos vivenciando o avanço de uma onda conservadora ameaçando conquistas importantes para as mulheres, como a Lei do Aborto”, ponderou. Já a representante da ASPU Colômbia, Glória Arboleda, falou sobre a luta que as educadoras colombianas fazem pela manutenção da paz no país e pelo direito de fazer política e sindicalismo, num ambiente que nos últimos anos tem muitos casos de assassinatos de líderes do campo social. Na fala de Paola Gimenez da OTEP-A (Paraguai), ficou claro como o avanço das políticas neoliberais tem afetado as sociedades na América Latina, com crises políticas e econômicas alinhadas com interesses de grandes grupos.

O painel seguinte proporcionou uma análise de conjuntura com foco no papel político das mulheres na América Latina. Foram expositoras Juçara Dutra Vieira, ex-Presidenta da CNTE e ex-Vice-Presidenta da IEAL e Sonia Alesso, Secretária Geral da CTERA e membro do Comitê Executivo Mundial da Internacional da Educação (IE). Para a professora Juçara, o Brasil é um país com alto índice de déficit democrático e que, por essa mesma razão, é extremamente prejudicado pela política mundial que é neoliberalista em essência. Ela também lembrou os benefícios sociais que os governos populares geraram em toda a América Latina e alertou para os retrocessos que começam a ser sentidos em países como o Brasil. “O Estado está passando por uma reorientação em seu papel. Sua função social passa a ser esvaziada e os interesses passam a ser subordinados ao grande capital”, disse. Também demonstrou preocupação com o retorno de uma visão marcantemente patriarcal que abre caminho para os feminicídios, com os requintes de crueldade que temos registrado no último período.

Em sua intervenção, Sonia Alesso, citou o autor Rodolfo Walsh, assassinado e desaparecido durante a ditadura militar Argentina, para lembrar como é fundamental que nossos povos sejam protagonistas da história e que tenhamos memória das lutas das trabalhadoras e trabalhadores. Alertou que precisamos andar em unidade para combater o fascismo e derrota a xenofobia. “Precisamos que nossos companheiros entendam que o feminismo não é pelas mulheres, é por toda a sociedade, e é pela democracia. Militar, ser militante quando se é mulher, é um desafio pessoal e coletivo”, afirmou. Finalmente, Alesso defendeu que não percamos de vista a manutenção de agendas de formação e intercâmbio sobre políticas de gênero, na perspectiva da pedagogia libertadora de Paulo Freire.

Na tarde de hoje a Análise de Conjuntura terá como palestrantes convidadas Eliana Santos, professora de Sociologia da Rede Estadual do Paraná e Yamile Socolovsky, Secretária de
Ralações Internacionais da CONADU Argentina.

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FONTE: CNTE
FOTO: Joka Madruga

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