Governo identificou erros nas notas do Enem em quase todos os estados brasileiros

21/01/20 | Lutas no Brasil

Houve equívocos na correção de quase 6 mil exames; somente Roraima e Amapá não registraram problemas

Os erros na correção das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) atingiram quase todos os estados brasileiros, de acordo com informações do próprio governo federal, anunciadas nesta segunda-feira (20). Somente Roraima e Amapá não tiveram registro de problemas.

Em entrevista coletiva, o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Alexandre Lopes, afirmou que os equívocos foram identificados em 5.974 provas e que 95% dos problemas ocorreram em três municípios de Minas Gerais – Viçosa, Ituiutaba e Iturama – e um na Bahia – Alagoinhas. Os outros 5% foram registrados em quase todas as unidades da federação.

Ainda de acordo com Lopes, uma equipe do Inep composta por 300 pessoas analisou os exames, durante o último fim de semana, de todos os 3,8 milhões de estudantes que participaram do processo. Questionado sobre a possibilidade de que novas inconsistências sejam encontradas, o presidente do instituto afirmou que não trabalha com hipótese.

Segundo as explicações do governo, houve erro na gráfica que imprimiu o exame durante o processo de associação entre as provas e os gabaritos. O problema foi identificado somente após reclamações de estudantes nas redes sociais. Em nenhum momento a empresa responsável pela impressão das provas notificou as autoridades sobre qualquer tipo de engano.

Um processo administrativo vai avaliar as responsabilidades para definir eventuais sanções à empresa. O presidente do Inep avisou que será feita uma revisão dos mecanismos de controle de qualidade. Segundo ele, a implementação do Enem Digital vai servir para evitar falhas dessa natureza.

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Alexandre Lopes disse ainda que estão mantidas as datas do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que utiliza os resultados do Enem para ingresso em instituições públicas de ensino superior. Na opinião dele, frente ao número total de participantes do exame, os erros identificados nas notas não são significativos.

“A prova está sendo muito elogiada pelos participantes. Foi uma aplicação muito calma. Essas inconsistências representam 0,15% dos participantes. O Enem 2019 continua sendo muito bem realizado”, declarou.

A percepção durante a transmissão ao vivo da coletiva de Lopes pela internet, no entanto, não corrobora a fala do presidente do Inep. Com mais de 900 comentários feitos em tempo real, os estudantes afirmavam que as explicações eram insuficientes e pediam garantias de que todas as notas foram reavaliadas. Muitos informavam que o e-mail disponibilizado pelo governo para atender às reclamações não funcionou e alguns chegaram a pedir o cancelamento do exame.

Na opinião de Alexandre Lopes, esse tipo de manifestação é comum e nenhum aluno foi prejudicado. “Não há problemas de correção. Esses tipos de manifestações ocorrem todo ano”.

Os erros na correção das provas do Enem foram confirmados pelo governo ainda no sábado (18), um dia após uma coletiva de imprensa em que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, comemorou os resultados da prova. Na ocasião, ele chegou a afirmar que esse havia sido “o Enem de todos os tempos” e ressaltou que gestão e eficiência são marcas do governo atual.

A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal (MPF) solicitou ao Ministério da Educação que a abertura do Sisu seja suspensa até que as falhas na correção do Enem sejam solucionadas. O Partido dos Trabalhadores (PT) entrou com ação na Justiça federal para que seja aberto novo prazo de pedidos de revisão. O Inep informou que a Advocacia Geral da União está atenta a possíveis questionamentos judiciais e vai prestar todo apoio ao Instituto.

Em nota, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) disse que “as universidades federais terão todo compromisso para efetivar as matrículas dos alunos aprovados nos processos seletivos a partir da confirmação dos resultados das notas, que devem ser corretos, em respeito aos padrões mais elevados de justiça”.

FONTE: BRASIL DE FATO
FOTO: Luís Fortes/MEC

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