Filme “Abraço – a única saída é lutar” estreia no Dia do Professor

15/10/20 | Lutas no Brasil

Produzido pelo Sintese (Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica do Estado de Sergipe), o filme Abraço – A única saída é lutar estreia nesta quinta, 15 de outubro – Dia do Professor e da Professora – em todo país nas plataformas digitais www.cinemavirtual.com.br e na www.looke.com.br, além de cinemas de algumas capitais selecionadas. A partir do dia 29 de outubro estará disponível nas plataformas digitais: Apple TV, Google Play, NOW, Vivo Play e Youtube Filmes.

Exibição do filme Abraço – 15/10 – Cidades e cinemas 

– Salvador (BA): Espaço Itaú Glauber Rocha
– Rio de Janeiro (RJ): Espaço Itaú Botafogo e Cinesystem Bangu
– São Paulo (SP): Augusta
– Brasília (DF): Cine Drive In Brasília
– Fortaleza (CE): Cine São Luiz
– Manaus (AM): Cine Casarão
– Ananindeua (PA): Cinesystem Ananindeua

A obra de ficção baseada em fatos reais retrata a luta de professoras e professores em Sergipe, mostrando a batalha do movimento sindical e estudantil contra a desvalorização da educação. Diversas cenas despertam o debate sobre o machismo, o racismo, a unidade, a resiliência da categoria.

Realizado com recursos da classe trabalhadora, o filme Abraço conquistou três prêmios (melhor filme, melhor atriz e melhor trilha sonora) pelo júri popular do Festival de Cinema de Pernambuco, em 2019. O diretor da película, Deivison Fonseca Fiuza, mais conhecido como DF Fiuza, relata, na entrevista a seguir, quais foram os caminhos da produção dessa obra.

CNTE – Qual é a sua relação com os sindicatos?
DF Fiuza – Quando eu ainda fazia faculdade de jornalismo, antes de estudar cinema, meu primeiro estágio foi no Sinpro-Bahia, sindicato dos professores das redes privadas, trabalhando na assessoria de comunicação deles. Ali foi uma grande escola pra mim, porque ali eu comecei a conhecer o mundo do trabalho, a ter consciência das pautas de reivindicação, da luta do trabalhador pelos seus direitos, então comecei a me envolver com a educação e o movimento sindical ao mesmo tempo, em 2002. Ainda na faculdade eu fiz um documentário chamado Casa de Anjo que retrata a vida de duas crianças que moravam nas ruas, elas tinham menos de um ano de idade, tinham nascido nas ruas e moravam nas ruas. A partir desse documentário que foi exibido em um evento anual do Núcleo Piratininga de Comunicação, o Sintese passou a conhecer meu trabalho ali e me convidou pra fazer o filme em Sergipe, eles queriam um documentário sobre a vida dos trabalhadores [Carregadoras de sonhos]. Aí veio o terceiro para o Sinpro de SP, que é um filme curta de ficção chamado “Minha voz, minha vida” e depois disso fiz alguns trabalhos e anos depois volto para o Sintese para fazer o “Abraço”.

Você dirigiu um documentário sobre a classe trabalhadora, o Carregadora de Sonhos. Como surgiu a sua ideia de fazer uma ficção com um tema sindical?

DF Fiuza – O Sintese, que foi o sindicato que patrocinou o documentário sobre “Carregadoras de Sonhos”, completava 40 anos em 2018 e aí eles me chamaram com a ideia de fazer um filme sobre a história dos 40 anos do sindicato, um documentário. Isso foi em 2016, na época do golpe contra a presidenta Dilma, então naquele momento ela já tinha sofrido o golpe e o Temer já tinha entrado e já veio aniquilando o movimento sindical e os direitos dos trabalhadores. Então nesse momento crítico imediatamente sugeri ao sindicato que ao invés de fazer um documentário, a gente deveria fazer um filme que dialogasse muito, mas muito mesmo com a realidade do Brasil naquele momento. Então tinha que ser um filme que tratasse da perda de direitos dos trabalhadores, da união contra essa retirada de perda de direitos. Então a defesa que fiz foi “fazer a produção de um filme com vistas à promoção e resgate da auto estima do movimento sindical em tempos de golpe e silenciamento de vozes numa democracia ameaçada”. Foi isso que levei e a partir daí o sindicato aceitou a minha proposta, abriu mão de fazer um documentário para fazer um filme de ficção mas que dialogasse de forma muito direta com a realidade do Brasil naquele momento. Fiz uma pesquisa grande em toda história do sindicato e selecionei um episódio dentro dos 40 anos para tornar um filme de ficção e que este episódio tinha que ter uma relação com o Brasil atual – daí que surgiu o filme “Abraço”.

A história da personagem principal – Ana Rosa – é verdadeira? Como ela foi construída?

DF Fiuza – A personagem Ana Rosa é uma mistura de dezenas de professoras com quem conversei na fase de pré-produção. Antes de escrever o roteiro do filme eu viajei o estado de Sergipe inteiro para conversar com as verdadeiras protagonistas desta história, as professoras e professores que vivenciaram esse momento que ocorreu no ano de 2008. Então eu conversei com dezenas de professoras e fui colhendo delas o que foi aquela experiência e tentei fazer um mergulhei na vida delas, o que é ser sindicalista, uma mulher sindicalista, que preço você paga na sua vida particular, na sua vida individual privada para ser uma mulher sindicalista, o que você perdeu, o que você ganhou. E elas de forma muito gentil abriram seus corações e foram relatando fatos de suas vidas privadas e eu fui criando a partir desses relatos um mundo interior para a criação da personagem Ana Rosa, e por isso eu acredito que as professoras, nas seções de teste do filme, elas se identificam muito, não só as professoras mas as mulheres militantes do movimento sindical elas vão se identificar com Ana Rosa porque ela é fruto de uma pesquisa grande com mulheres militantes. Ana Rosa não é uma invenção é uma observação, é uma construção a partir de uma pesquisa com mulheres que militam no mundo sindical.

É um filme que conquistou prêmios importantes. Você esperava essa repercussão positiva?

DF Fiuza – A gente sempre espera o melhor. Mas o plano na nossa cabeça era simples, vamos fazer um filme custeado e patrocinado pelo movimento sindical, falando de trabalhadores e levando a pauta da educação para o cinema. Então só por aí a gente já imaginava que teria algum tipo de repercussão porque é um tema que não é constante para o cinema nacional. Ele traz o ponto de vista do trabalhador, do militante, não é alguém olhando para eles. É quase um auto relato dos próprios trabalhadores sobre sua vida. Pelo menos dentro do movimento sindical a gente esperava alguma repercussão.

E como foi a captação de recursos e a produção para esse filme com um foco tão grande em trabalhadoras?

DF Fiuza – O filme Abraço foi 100% financiado pelo Sintese com apoio da CNTE e da CUT. Não tem um real de verba pública do governo nem de recursos da iniciativa privada na produção e distribuição do filme Abraço. O mercado de cinema ele tá preparado pra qualquer filme – mas assim, um filme que você tem mulheres como protagonistas eu acho que é um desejo do público. As questões feministas, de mulheres, graças a deus cada dia está mais presente na mídia e nos meios de comunicação e um filme que traga essa discussão acho que vai ser sempre bem esperado. O filme não tem expectativa de lucro ou ganhar dinheiro na bilheteria. O maior objetivo desse filme é alcançar a classe trabalhadora e se possível para que ele ultrapasse a barreira do movimento sindical e consiga dialogar com a sociedade, com a população.

Hoje a gente está atravessando uma pandemia, o que coloca alguns obstáculos como salas de cinema fechadas. Como que vai ser a distribuição desse filme para a classe trabalhadora?

DF Fiuza – O filme seria lançado no dia primeiro de maio. A gente ia lançar em assembleias legislativas mas veio a pandemia e tudo mudou. Hoje a gente entende que as pessoas estão passando mais tempo em casa e elas precisam de algum tipo de entretenimento. Aumentou muito o número de pessoas que assistem filmes online. No caso do Abraço vamos lançar em cine-drive ins, e além disso vai poder ser assistido no cinema virtual.

Gostaria de registrar mais alguma mensagem para a categoria?

DF Fiuza – É o nosso filme companheiras e companheiros! A esquerda precisa entender que a principal disputa não é política eleitoreira, e sim cultural, disputa de hegemonia, de construção de novos valores e sentidos, esse é o maior desafio, e a cultura, toda forma de cultura, é uma ferramenta muito poderosa para isso.

FONTE: CNTE
FOTO: REPRODUÇÃO

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